14 de junho de 2014

DOIS OLHARES SOBRE A COPA DO MUNDO

I - O NEGÓCIO GLOBAL DO FUTEBOL E A COPA DO MUNDO NO BRASIL 
(Marcondes Calazans)

Começarei com certo radicalismo em termo de reflexão, dizendo que o mercado global do futebol é dominado por empresas (umas poucas), que impõem uma política imperialista, revestindo o atual capitalismo com nomes da mesma forma globais – certo número de superclubes com células em alguns países da Europa, que competem entre si e transformam seus jogadores, recrutas de um novo mundo em ascensão, caracterizado pela corrupção, marcado pela lavagem de dinheiro, obras superfaturadas e manipulação do que denominam de legalidade.

1.       A Copa do Mundo no Brasil tem mil e uma caras

Comecemos pelos grandes problemas sociais e de infraestrutura que enfrentam as pessoas mais pobres dos lugares onde foi construído o que chamam de arena. Incrível como até o termo mudou! Antes era estádio. Mas, é arena mesmo, o que dizer do termo usado pelos romanos ao se referirem aos coliseus!
Quando afirmo que o torneio de futebol no Brasil tem mil e uma caras, estou me referindo aos contrastes das expressões faciais de rostos que nunca perdem o sorriso, começando pelo Presidente da FIFA, discorrendo pelo gesto arrogante da direção da CBF, replicando no semblante da nossa presidenta, que chegou a afirmar que o padrão do seu governo “é padrão Filipão”. O que dizer dos semblantes da parcela da sociedade brasileira, que nada ganha com a COPA!
Prof. Marcondes Calazans
Fica difícil para a sociedade que vive no entorno das Arenas acreditar que as coisas irão melhorar, quando dão conta dos gastos para a construção dos Estádios. Ouve os governos (estadual e Federal) afirmarem que não têm dinheiro para saneamento básico, habitação, água potável, escola de qualidade, além de saúde digna, e desembolsam bilhões de reais para a construção dos coliseus, os quais não poderão frequentar, pois o valor da entrada elitizou o futebol, que em sua origem trazia as características do popular (povão).
A Copa do Mundo no Brasil vem provocando acirrados debates e troca de acusações entre ex-parceiros, a exemplo das farpas trocadas pelo Deputado Federal Romário (ex jogador) e um dos membros do Comitê de Organização Local, Ronaldo (o fenômeno).
Conforme explica Romário, foi aprovado em 12 de março um requerimento na Comissão de Esporte para convidar o presidente da CBF, José Maria Marin, e um membro do COL, que seria Ronaldo, para explicar a questão dos ingressos para deficientes. "Acredito ser este o foro ideal para darmos satisfação à população", falou Romário.
No comunicado, Romário também fez ironias e críticas às declarações otimistas de Ronaldo sobre a Copa do Mundo, criticando os "gastos absurdos" e citando o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que disse que o Brasil tem tudo para fazer a "pior Copa de todos os tempos". (Portal Terra, 20 de março de 2014).
Absurda e oportuna a declaração do secretário geral da FIFA, que não tem olhar crítico para entender as razões que levam alguns estados atrasarem suas obras. Caso que emblema as razões como superfaturamento e desvio de verbas desses governos em parceria com a iniciativa privada, responsável pela construção das Arenas.

2.       Eventos Esportivos em outros cantos do Globo.

Na China, na ocasião em que o país se preparava para promover as Olimpíadas, quem mais sofreu foram os mais pobres. O Governo chinês para vender uma boa imagem da capital (Pequim), programou projeto acabando com algumas favelas existentes em seu entorno. A alternativa foi desumana, pois as populações foram despejadas de suas humildes residências à força, com indenização que não permitia com o dinheiro que recebeu construir um pequeno quarto de morada, resultado: essa população passou a perambular pelas periferias como mendigas.
As Copas que ocorreram na Europa e nos EUA foram um sucesso. Por quê? Nesses Continentes, os problemas sociais – em maior grau na Europa -, foram sanados faz tempo. Após sua realização, constatou-se que houve superfaturamento em algumas obras, prontamente justificadas pelos organizadores, e silenciadas por seus governos. Uma boa imagem é Tudo!
A Copa da Ásia, por sua vez, foi rateada entre Coreia e Japão se transformando em sucesso, pois o padrão de qualidade lá realmente é levado a sério. O resultado foi que o futebol nos dois países virou um grande negócio, com a importação inclusive de jogadores que fizeram fama durante sua realização.
Na África do Sul, ao contrário, a Copa do Mundo deixou péssimas heranças, a sede, a cidade do Cabo é um grande exemplo. Estádios em ruínas e a permanência dos problemas de infraestrutura nas cidades que sediaram os jogos. A explicação é a pouca /fraca tradição daquele país na arte do futebol. Um fator que se parece com o nosso é a construção dos estádios e a ausência de conclusão das obras de infraestrutura como hotéis suficiente,  transporte e acesso.

3.       Os gastos com a Copa no Brasil

Voltando ao Brasil e vamos aos gastos. Romário, numa  tentativa de isolar o fenômeno (Ronaldo dentuço), levantou várias indagações sobre os gastos, o que gerou grandes mobilizações contra a copa no Brasil.
Argumento de Romário ao Ronaldo: “Como representante do COL acredito que você já saiba que o orçamento da Copa começou em R$ 23,5 bilhões, já está em mais de R$ 26 bilhões, uma conta que ainda não fechou. Para piorar, apenas 5, das 41 obras de mobilidade urbana foram concluídas, de acordo com levantamentos recentes”.
O grande problema começa no ano de 2007, quando a informação passada alegava que a copa seria plenamente financiada pela iniciativa privada, o que levou o Deputado Romário afirmar:
Em 2007, em Zurique, Suíça (sede da FIFA) ao lado de Parreira, Paulo Coelho e Ricardo Teixeira, eu afirmei e, principalmente, acreditei assim como a maioria dos brasileiros que esta Copa seria a melhor Copa de todos os tempos. Naquela época, a informação que tínhamos era que a Copa seria 90% financiada com dinheiro privado. Hoje, se sabe que 98% do dinheiro da Copa é público, ou seja, daquelas pessoas que pagam seus impostos e o pior, a maioria não conseguirá assistir a um jogo sequer. Há três anos, desde que assumi meu mandato de deputado federal, tenho posições e compromissos diferentes. Não é com você, não é com COL, com a FIFA, CBF, ou Governo. Meu único compromisso é com a população brasileira. Tenho feito a minha parte, cobrar, denunciar e legislar. E modéstia a parte, tenho feito muito bem. (Do UOL, em São Paulo 17/03/2014).

4.       Considerações finais

As expectativas quanto o legado da Copa no Brasil, fica a certeza que, em função dos prazos e burocracias, muitas obras serão concluídas com extrema rapidez, com isso, diminuindo assim suas qualidades.  Outro fator é que o evento irá inflacionar os serviços, principalmente de hotéis, antes e durante a Copa do Mundo. Mesmo pessoas que não vão assistir aos jogos pagarão preços salgados em diárias de hotéis e serviços nas cidades que serão sedes. Se o evento não for bem sucedido, apresentando problemas diversos, a imagem do Brasil no exterior poderá ficar manchada. O Brasil poderá ser visto como um país desorganizado e ineficiente, diminuindo a confiança no país e os investimentos estrangeiros.  Outro fator muito discutido é o custo benefício da construção de alguns estádios que poderá não ser positivo. Isso porque em algumas regiões do Brasil (principalmente centro-oeste e norte), os estádios poderão ser subutilizados após a Copa do Mundo como ocorre com a África do Sul.
 Dinheiro público usado na Copa do Mundo deveria ter sido utilizado em áreas em que o Brasil é carente como, por exemplo, saúde e educação. Estes gastos elevados com um evento esportivo que dura poucos dias gera insatisfação em grande parcela da sociedade. Diante do elevado volume de recursos financeiros utilizados, principalmente na construção dos estádios, ocorre abertura de mais possibilidades para a corrupção.
O que se pode concluir com isso? Que o negócio global do futebol e a copa do mundo no Brasil têm mil e uma caras.



II - BRASIL, MEU PAÍS É DO FUTEBOL!  
(Madalena Oliveira)

      Durante muito tempo, ouvimos esta frase: “Brasil país do futebol.” Certamente, a maioria da população torce por um time de futebol durante os campeonatos estaduais e brasileiros. Os meios de comunicação dedicam horas de sua programação (no rádio e na tv) ao futebol, quase sempre em horário nobre. São dezenas de campeonatos que contam com a participação dos torcedores nos estádios.
Em todo torcedor reside um técnico de futebol que dá palpite na escalação do time, que xinga o juiz, que discute a partida, elege as melhores jogadas, vibra e aplaude os jogadores, que  rir, chora e canta de emoção na hora do gol, da vitória ou da derrota. Assim, o futebol na vida da maioria dos brasileiros é pura emoção.
Prof.ª Madalena Oliveira
É por isso que o futebol está no dia a dia do brasileiro, no imaginário, no prazer e até mesmo quando o filho nasce, colocam o nome do bebê em homenagem aos jogadores. Alguns investem durante anos, em “peladas”, escolinhas de futebol, na esperança de ver seu filho tornar-se jogador de futebol. Até aí a população brasileira acha tudo normal, não questiona e, de certa forma, colabora para manter este status quo.
Em 2005, foi o momento de escolher o país que iria concorrer para sediar a copa do mundo de 2014. Então, o governo brasileiro se esforçou para apresentar a melhor proposta. Em outubro de 2007, a FIFA decidiu que o Brasil finalmente iria sediar a copa. Foi um oba-oba! Tudo a ver. Afinal, somos o país do futebol. Participamos de todas as copas e somos pentacampeões. Naquele momento, ninguém questionava se essa era a prioridade para o país, o quanto seria necessário investir em infraestrutura, transportes e segurança para atender às demandas provocadas pelo megaevento, ou seria mais importante investir nas reais necessidades da população, saúde, educação, transportes, moradia popular, saneamento básico, segurança etc.? Estes, no meu entender, seriam os melhores investimentos para o nosso país. Alguns até argumentavam que os investimentos para copa iriam beneficiar os estados onde ocorressem os jogos.
Hoje, lamentavelmente as pessoas, grupos, movimentos, categorias profissionais têm usado a copa para protestar, reivindicar, fazer greves etc. Eu entendo a necessidade de todos nós trabalhadores brasileiros que estamos carentes de tantos direitos sociais; respeito os movimentos, afinal, vivemos em um país democrático. Vale ressaltar que se juntam a estes movimentos pessoas mal intencionadas (vândalos) que só querem tumultuar, fazer baderna, sair destruindo a cidade, prejudicando a todos nós.
Lamento, mas não lembro de ver a população ir às ruas nas capitais do Brasil para questionar, para dizer não, no momento em que o Brasil se candidatou para sediar a copa de 2014. Não ouvi: Não devemos sediar a copa!  Ou: Queremos que nossos governantes invistam nas reais necessidades da população! Poucos discordaram que deveríamos sediar a copa, mas tão poucos que não conseguiram ser ouvidos (nestes poucos, me incluo).
Sou e sempre fui a favor de manifestações públicas. Participo de movimentos políticos, sociais. Sempre defendi que a voz do povo deve ser respeitada. Porém, agora é necessário pensar em algo maior. Agora que o cenário está montado, o país já investiu bilhões em estádios, infraestrutura e segurança, os recursos financeiros já saíram dos cofres públicos (dos impostos que nós pagamos), não existe mais como recuar. Não cabem mais protestos, devaneios, vandalismo nas ruas das nossas capitais. Estes atos servem apenas para expor ainda mais as nossas mazelas, afastar os turistas, amedrontar e por em risco a integridade das pessoas. Não é o momento de “discutir a relação,” afinal roupa suja não se lava em público. 
Gostaria de lembrar que foram vários os investimentos que grandes e pequenos empresários fizeram pensando em lucrar com a copa. Desde o motorista de taxi que fez um curso de inglês, ao senhor da barraca de cachorro quente que fez o curso de manipulação de alimentos, e as empresas que fizeram lembranças, camisas, botons... os hotéis, pousadas e restaurantes que fizeram reformas, contrataram novos empregados, enfim, todos certamente pensaram em atender melhor o turista e ter a oportunidade de lucrarem um pouco mais durante a copa.
Portanto, este é um momento muito importante para o nosso país! Qual a imagem que queremos que os gringos levem de nós? Queremos que eles voltem ao Brasil em suas próximas férias ou recomendem aos seus amigos? E assim, possamos fortalecer o turismo e garantir postos de trabalho para o povo brasileiro.
Acredito que agora é a hora de darmos as mãos e colocar as cores da nossa bandeira na frente de nossas casas, na varanda, no carro e vestir a camisa verde e amarela; colocar o sorriso nos lábios e a PAZ NO CORAÇÃO; convidar seu vizinho para enfeitar as ruas e os bairros; ir para às ruas fazer a festa, receber bem os turistas; reunir os parentes e amigos em casa ou no barzinho, tomar aquela cerveja ou cachacinha e torcer para nossa seleção. AFINAL, SOMOS OU NÃO O PAÍS DO FUTEBOL? Agora é hora de gritar: BRASIL!  BRASIL! EU SOU BRASILEIRA!
Se você concorda, divulgue esta ideia. Faltam poucos dias para o início da copa e precisamos de um clima de festa, paz e tranquilidade em nosso país.  Faça a sua parte!
Madalena Oliveira - Geógrafa e Professora de Geografia - madaleoliveira@bol.com.br



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