23 de julho de 2014

ARIANO SUASSUNA

Publicamos uma homenagem à grandeza de 
Ariano Suassuna 
em 12 de abril de 2014.








Para conferir os textos, clique em:

ADEUS, MESTRE ARIANO! (Paulo Katu)

Ariano Suassuna e Paulo Katu
Nascido na Paraíba
Passa a ser pernambucano,
Aqui ele achou guarida
Singular calor humano,
Se as terras tão divididas
O Nordeste te deu vida
Grande poeta Ariano.

Posso falar sem engano
E de maneira oportuna,
Tuas obras, teu legado
São para o mundo fortuna,
Que nossa classe enaltece
E humildemente agradece
Obrigado, Suassuna!

És uma grande escuna
Pronta pra nos transportar,
Para mundos infinitos
Na superfície do mar,
Tudo com muita alegria
Tua culta poesia
Serve pra devanear.

Duma delas vou falar
Que na terra ninguém corre,
O mal irremediável
Que doutor nenhum socorre,
Independente da crença
Cumpristes tua sentença
Pois tudo que é vivo morre.

A morte a terra percorre
Dando cabo aos animais,
Qualquer vivente da terra
Hoje vive depois jaz,
Hoje existe depois some
Mas o legado do “home”
Ela não mata jamais.

Não posso demorar mais
Por causa dos olhos meus,
Que lamentam a partida
Desse gênio que morreu,
Durma em paz pernambucano
Paraibano Ariano
Grande poeta, adeus!


IMPERDÍVEL TAMBÉM É O ARTIGO DE MARCONDES CALAZANS:


OS GÊNIOS NÃO MORREM

Os verdadeiros gênios nunca morrem, eles dormem em um plano existencial para transcenderem em outro e outro e outro...

Imagino um céu só para os grandes sábios, e, acima de tudo os diálogos desenvolvidos entre eles. Um, no campo literário, outro na ficção, outro na educação, e assim por diante, num lugar de onde sentados, em algum beiral, com as pernas balançando observando-nos, aqui no nosso planeta com os nossos erros, acertos e opiniões, inclusive sobre até suas obras, maneira de escrever e estabelece juízos.

Imagino Paulo Freire com o dedo indicador apontando para os altos índices ainda de analfabetos, mergulhados na escuridão do dissabor de não saber, a falar: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.” (FREIRE, Paulo, 1996)

Gilberto Freyre, a testemunhar ainda a prevalência da política dos coronéis impondo o voto de cabresto e de favores pelos engenhos e seus velhos casarões afora. Testemunhando que, por força da hipocrisia de uma sociedade egoísta que ainda vira o rosto para a existência da transformação das senzalas em favelas que se avolumam a cada dia, falar: “O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” (FREYRE, Gilberto, 1959).

E agora! Como imaginar Ariano Suassuna subindo lentamente pro céu e se aproximando dos outros dois a observá-los do alto com seus sorrisos de paz e suavidade! Como imaginar Ariano, ao chegar junto ao beiral de onde se pode ver o nosso planeta em toda sua plenitude! Ariano que no livro “O Auto da Compadecida”, não temeu sugerir um Cristo negro em um país marcado em sua história pela hipocrisia da democracia racial. Creio, que, ao se deparar com os outros dois talvez refizesse sua frase: “que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas”.

Ariano Suassuna foi um grande mágico na arte de escrever, de transformar realidade em ficção apurando sempre seu imaginário para as coisas aparentemente absurdas ou talvez impróprias para os grandes centros acadêmicos, que, por rigidez, impõe para quem escreve o que denominam de norma “certinha” e regrada.

Na obra o “Auto da Compadecida” ele emblema na simplicidade um alerta aos que acham que não têm responsabilidade para com o outro: “Jesus às vezes se disfarça de mendigo pra testar a bondade dos homens”.

Concluo o que não consigo dizer o que merece o professor Ariano usando suas próprias palavras: “Não sei, só sei que foi assim!” (Em: O Auto da Compadecida)




3 comentários:

  1. OS GÊNIOS NÃO MORREM

    Os verdadeiros gênios nunca morrem, eles dormem em um plano existencial para transcenderem em outro e outro e outro...

    Imagino um céu só para os grandes sábios, e, acima de tudo os diálogos desenvolvidos entre eles. Um, no campo literário, outro na ficção, outro na educação, e assim por diante, num lugar de onde sentados, em algum beiral, com as pernas balançando observando-nos, aqui no nosso planeta com os nossos erros, acertos e opiniões, inclusive sobre até suas obras, maneira de escrever e estabelece juízos.

    Imagino Paulo Freire com o dedo indicador apontando para os altos índices ainda de analfabetos, mergulhados na escuridão do dissabor de não saber, a falar:
    Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade. (FREIRE, Paulo, 1996)

    Gilberto Freyre, a testemunhar ainda a prevalência da política dos coronéis impondo o voto de cabresto e de favores pelos engenhos e seus velhos casarões afora. Testemunhando que, por força da hipocrisia de uma sociedade egoísta que ainda vira o rosto para a existência da transformação das senzalas em favelas que se avolumam a cada dia, falar:

    O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades. (FREYRE, Gilberto, 1959).

    E agora! Como imaginar Ariano Suassuna subindo lentamente pro céu e se aproximando dos outros dois a observá-lo do alto com seus sorrisos de paz e suavidade! Como imaginar Ariano, ao chegar junto ao beiral de onde se pode ver o nosso planeta em toda sua plenitude! Ariano que no livro “O alto da Compadecida”, não temeu sugerir um Cristo negro em um país marcado em sua história pela hipocrisia da democracia racial. Creio, que, ao se deparar com os outros dois talvez refizesse sua frase: “que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas”.

    Ariano Suassuna foi um grande mágico na arte de escrever, de transformar realidade em ficção apurando sempre seu imaginário para as coisas aparentemente absurdas ou talvez impróprias para os grandes centros acadêmicos, que, por rigidez, impõe para quem escreve o que denominam de norma “certinha” e regrada.

    Na obra o “Alto da Compadecida” ele emblema na simplicidade um alerta aos que acham que não têm responsabilidade para com o outro: “Jesus às vezes se disfarça de mendigo pra testar a bondade dos homens”.

    Concluo o que não consigo dizer o que merece o professor Ariano usando suas próprias palavras: “Não sei, só sei que foi assim!”
    (Em: O Auto da Compadecida)








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  2. SÓ DISCORDEI DE FERNANDO PESSOA.
    “Quantas horas de seu dia e de suas noites são consumidas para preparar jornais, seminários, palestras; quantos passeios e diversões foram trocados para transmitir a nós, aquilo que é para você um alimento de sua alma?”. Começo logo confessando que essas palavras não são minhas, mas eu concordo com cada uma delas. São da poetisa Cida (falando sobre a genialidade de Admmauro Gommes e o sucesso de seu blog). Eu também já me questionei várias vezes com essas mesmas perguntas. Esse blog é para mim um “livro mágico”, estudo ele mesmo! Os motivos são simples: Admmauro joga poucas palavras aqui, e eu acho o máximo. Cida sempre vem com uma sensibilidade ímpar e consegue me encantar (gostaria de conhecê-la pessoalmente). Calazans é um fenômeno! Quando ele começa com seus: “Em um certo dia, em um certo lugar...” eu já começo a viajar, e depois do término da leitura, ainda demoro para voltar da tal viagem. Os textos dele brilham: “Eu sei, eu só sei que é assim!”. A sensação não foi diferente quando eu li o artigo dele sobre Ariano. Para completar o time, chegou Katu como mais um personagem do livro mágico. Eu sou suspeita a falar porque já recebi desse cordelista querido, o título de “Katuete nº1”, e fiquei toda prosa quando soube que tentaram roubar meu título e ele não deixou. Eu já sabia que Katu teve o privilégio de conversar com Ariano, então quando eu vi as homenagens a este mestre, aqui no blog, decidi “katucar” Katu: “Ei rapaz, visita o blog de Admmauro, dá uma lida no artigo de Calazans e deixa teu comentário por lá... Arrebenta, Katu!”. Fiquei na expectativa. Eu tinha certeza que esse cordelista não decepcionaria sua Katuete. Ele seguiu meu conselho e arrebentou! Comecei a ler seus versos e lembrei de Fernando Pessoa quando metralhou: “O poeta é um fingidor / finge tão completamente / que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente”. Katu não fingiu, nem pouco nem completamente, nem fingiu que era dor a dor que deveras sente. Seus versos foram extremamente verdadeiros e deveras emocionantes. Preciso provar? É sempre bom, não é mesmo? Vamos lá: ”Não posso demorar mais / Por causa dos olhos meus / Que lamentam a partida / Desse gênio que morreu / Durma em paz pernambucano / Paraibano Ariano / Grande poeta, adeus!”. Katu me provou que não é um poeta fingidor e é a exceção da regra de Pessoa. A dor que Katu sente, também estamos sentindo. Busquei minha avó Sílvia Reis, que tem pouco estudo, mas ficou profundamente triste quando soube da morte de Ariano. Li os versos de Katu para ela e perguntei: “A senhora acredita que este poeta fingiu ao falar sobre Ariano?”. Ela me respondeu com toda a certeza que havia nela: “Fingiu não! Gostei disso aí, quem escreveu?”. Comprovando a minha tese: Não precisa ser letrado e nem tampouco poeta, para sentir a veracidade desses versos. Basta apenas ter um pouco de Ariano em si. E isso, cada um de nós temos, com certeza. Concordei com quase todos, só discordei de Fernando Pessoa...
    Um abraço de Sylvia Beltrão.

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    1. Silvia parece brincar com a caneta ao transformar o que pensa em texto. É possível acompanhar suas ideias, suas emoções e sentimentos. Ela prova que escrever é a arte de materializar a essência da alma, coordenando-a com pura perfeição, é como um transe, estado de ânimo quando se perde a consciência do real por um momento colocando em reflexão apenas a alma, o espírito que se eterniza cada vez que resolve escrever. Permita-me Silvia dizer dessa impressão que me causas. Maravilhoso texto.

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