18 de junho de 2015

O CORAÇÃO TAMBÉM PENSA


Admmauro Gommes
Poeta, Professor de Teoria Literária e
Literatura Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)

Há muito tempo venho me perguntando se o coração tem a capacidade de se emocionar ou esta é atribuição apenas do cérebro. As indagações foram aumentando ao afrontar as expressões “Coração de mãe não se engana” e “Coração apaixonado,” este último é conhecido jargão do sentimentalismo poético, repetido por tantas gerações. Qualquer curioso fecharia a presente questão compreendendo que o ato de pensar, ter sentimentos, memorizar e ser imaginativo é tarefa de um único órgão: o cérebro.
Eu também estava convicto da mecanicidade do coração, apenas de bombear o sangue, sem “pensar.” Quando li na internet um texto da terapeuta Maria Helena Leite de Moraes: “A inteligência do coração,” mudei de ideia. Em suas palavras “A mente opera de uma maneira linear e lógica o que é muito útil e importante no dia-a-dia, mas às vezes precisamos algo além da análise lógica para resolver algum problema e aí entra a capacidade intuitiva e emocional que é a inteligência do coração.” Estas descobertas são atribuídas a John e Beatrice Lacey, do Fels Research Institute (Filadélfia, Estados Unidos).
Na mesma linha de pensamento, Giovana Tessaro afirma que “O coração reage ao que percebe, influenciando todo o corpo, inclusive, o cérebro” (personare.com.br). O Dr. Rollin McCraty entende que “Há um ‘cérebro no coração, metaforicamente falando’. O respeitado pesquisador pertence ao Instituto HeartMath, uma organização sem fins lucrativos que oferece tratamentos com base na conexão entre o coração e o cérebro. “O coração contém neurônios e gânglios que têm a mesma função que as do cérebro, tais como a memória. É um fato anatômico”, disse McCraty (epochtimes.com.br).
Defendem os especialistas, portanto, que a estrutura do coração é similar à do cérebro, embora este tenha aproximadamente 86 bilhões de neurônios. O coração possui 40 mil, além de uma completa e espessa rede de neurotransmissores, proteínas e células de apoio.
Talvez seja por isso, sem demérito da razão, e sem conotação, que encontrarmos um sentido bem próximo do referencial quando lemos que “Enganoso é o coração... e perverso” (Jr 17.9) ou quando damos ouvidos ao coração dos poetas. Na opinião de Sigmund Freud (Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen), “Os poetas (...) são aliados preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta consideração, porque eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar nem sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres, que somos homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à ciência.” No meu ponto de vista, “fontes” que não passaram pela mente, pela razão, mas surgiram do sentimento, do âmago, e da alma, onde a emoção existe antes de ser palavra.

 Neste ponto, merecem atenção também Julio Iglesias (Coração apaixonado / Só escuta a própria voz e nada mais), e Wando (Chora, coração). Mais profundo ainda, vale lembrar o exímio escritor português que disse: “É o coração que faz o caráter” (Eça de Queiroz). Por fim, resta dizer da “falta” que o coração nos faz quando “desaparece.” Termino com a genialidade de Gabriel Garcia Márquez: "Se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol." Por estas e outras, devemos acreditar nesse “pequeno cérebro”, pois embora o coração de poeta esteja sempre confuso, o de mãe não se engana.