21 de abril de 2017

AULAS DE LITERATURA POPULAR


A INFLUÊNCIA DO MOTE

Considere os fragmentos que seguem e produza uma redação com caráter argumentativo justificando a importância do mote na construção do texto poético.

a) Na opinião do poeta alagoano José Inácio Vieira de Melo, para que o cantador de viola comece a produzir sua arte, “basta uma provocação, um ‘mote’ para surgir de forma instantânea o tema para uma canção.”

b) “Na vida cotidiana desses poetas existe o hábito de "dar motes" o tempo inteiro, durante a conversa. Qualquer assunto é motivo para um mote. Você está conversando no balcão de um bar, pede um cafezinho, vem frio, você reclama. O poeta ao lado ri e dá o mote: "Quem bebe café aqui / pode pegar resfriado", ou algo assim. É quase um cacoete, uma mania benigna.” - Bráulio Tavares




11 de abril de 2017

ZORAIA, PORTUGAL E POESIA

Flores do jardim de Zoraia
Admmauro Gommes
Poeta e professor de literatura
admmaurogommes@hotmail.com

Conversando com Zoraia, uma ‘portuguesa’ natural de Xexéu, mas que reside na Ilha da Madeira, descobri outras zoraias que ela esconde. Iniciamos o bate-papo porque me disse que estava sem tempo para terminar de escrever um livro. Desculpou-se afirmando: “Nos dias de pouco movimento dedico-me às flores de meu jardim.” Durante a conversa, soube que desenvolveu outro talento para fazer gravuras em azulejos e tinha sido convidada para expor suas espécies raras. Suas orquídeas vanda e tutti negra, petúnia, catylas, proteias, sapatinhos da Índia, cactos, urze... Uns amores de plantas! Ou melhor, até amores-perfeitos. Então repliquei que isso também é poesia e sua produção valia mais que um livro publicado, pois se reeditava diariamente. 
O modo como ela faz e com o carinho que faz é o que conta, porque todo artifício que manuseia o belo, dialoga com o poético. Isso, por si, demonstra o grau de poeticidade que aflora de uma cultivadora de flores ou de uma esteticista que vê no toque facial traços de rara beleza.  É que a poesia está em tudo. Em cada pedaço de vida, em cada olhar, em cada esperança ou desesperança. E porque é arte, é parte integrante do cotidiano. Embora dito isto, faço breve distinção entre poetas que escrevem e poetas que cultivam a poesia no seu íntimo mas não conseguem externar o sentimento através das palavras. Esses escolhem pétalas para escrever auroras. Aqueles, palavras, pois necessitam desses instrumentos linguísticos e do domínio estético.
Mesmo fazendo estas considerações, reafirmamos que a poesia está em qualquer lugar: nos chinelos, como disse Manuel Bandeira; ou no esgoto, para usar a expressão de Manoel de Barros. Mas também pode estar no jardim. O olhar de quem observa é que dá a carga poética a qualquer objeto, como o carinho com que Zoraia cuida das orquídeas.
Observando as flores que ela me enviou pelo Whatsapp, entendo que são verdadeiros mimos e que ninguém precisa inventar poesia; ela já existe nos seres como imanência. Lembrando Mário Quintana, não se deve correr atrás das borboletas; basta cuidar do jardim que elas vêm ao nosso encontro.
Por ser essência, a poesia nos procura, nos circunda e nos absorve, pois somos reveladores dessa cosmicidade intransponível, indizível, indecifrável, e necessária para que a vida tenha sentido. A poesia está ligada à mágica da existência e ao deslumbramento que nos inquieta diante das coisas incompreensíveis. A sensibilidade é que faz o poeta, este cultivador de flores ou de essências.


8 de abril de 2017

PORQUE A CARNE É FRACA

Este texto foi publicado também no Jornal do Commercio
Admmauro Gommes
admmaurogommes@hotmail.com

O nome que a Polícia Federal atribuiu à fiscalização que suspendeu licença de exportação a mais de duas dezenas de frigoríficos, chamando de Carne Fraca, parece bem sugestivo e ilustra muito o estado de coisas que há anos vem acontecendo no seio de nossa pátria. Podemos dizer que todas as fases da Operação Lava Jato estão representadas na fraqueza da carne. É uma terrível ilustração, gangrena que atinge até o osso em crime de lesa-pátria.
É como se tudo pudesse ser compreendido tomando-se por base o texto bíblico que afirma ser a carne (a natureza humana) fraca, diante do que aguça os olhos e instiga a corrupção. E agora, em quem confiar? Se desconhecemos a procedência até do que ingerimos? Já bastam os agrotóxicos e transgênicos que nos agonizam. Como atenuante, as autoridades estão dizendo que não há nada demais, ‘apenas encontramos um sistema de propina’. Só isso. Dos males, o maior!
Esperei por grande barulho: partidos políticos no horário gratuito denunciando, a sociedade organizada sendo convocada para as ruas, panelaço, o escambal ... Mas não houve nem um mugido, foi um silêncio diante da podridão e continuamos a mastigar o mesmo veneno. Literalmente, um papelão.
Lá fora, a coisa foi diferente. De imediato, os compradores estrangeiros da carne brasileira tomaram uma providência: não importar mais esse produto enquanto todos os responsáveis não pedissem desculpas formais e prometessem não mais se entregar aos desprazeres da carne. Um Deus nos acuda! Enquanto isso, aqui no Brasil, quem viu alguma rede de supermercados rejeitar publicamente as empresas investigadas? Ou um político levantar bandeira em nome da saúde pública?
Se a população brasileira fizesse como os importadores internacionais, não querendo mais consumir carne podre, com papel embutido, aí a vaca ia pro brejo. Precisava que o povo mostrasse que tem nervos e tutano e sangue nos olhos. Mas, não. Tem gente que nem percebeu a gravidade desse problema que nos intoxicou e nos contaminará ainda por muito tempo. Também, pudera: muitos ‘intelectuais’ estavam entretidos mandando ‘correntinhas’ pelo WhatsApp.
Mas ainda há tempo (será?) Quando quisermos, poderemos até embargar os governos desgovernados que conduzem a manada nacional. Poderíamos, apenas, com um voto consciente reescrever a nossa história, distante das páginas sujas que nos envergonham. Mas quem está preocupado com isso? Infelizmente, nas próximas eleições votaremos novamente pela paixão e pela aparência porque a nossa carne também é fraca.