8 de abril de 2017

PORQUE A CARNE É FRACA

Este texto foi publicado também no Jornal do Commercio
Admmauro Gommes
admmaurogommes@hotmail.com

O nome que a Polícia Federal atribuiu à fiscalização que suspendeu licença de exportação a mais de duas dezenas de frigoríficos, chamando de Carne Fraca, parece bem sugestivo e ilustra muito o estado de coisas que há anos vem acontecendo no seio de nossa pátria. Podemos dizer que todas as fases da Operação Lava Jato estão representadas na fraqueza da carne. É uma terrível ilustração, gangrena que atinge até o osso em crime de lesa-pátria.
É como se tudo pudesse ser compreendido tomando-se por base o texto bíblico que afirma ser a carne (a natureza humana) fraca, diante do que aguça os olhos e instiga a corrupção. E agora, em quem confiar? Se desconhecemos a procedência até do que ingerimos? Já bastam os agrotóxicos e transgênicos que nos agonizam. Como atenuante, as autoridades estão dizendo que não há nada demais, ‘apenas encontramos um sistema de propina’. Só isso. Dos males, o maior!
Esperei por grande barulho: partidos políticos no horário gratuito denunciando, a sociedade organizada sendo convocada para as ruas, panelaço, o escambal ... Mas não houve nem um mugido, foi um silêncio diante da podridão e continuamos a mastigar o mesmo veneno. Literalmente, um papelão.
Lá fora, a coisa foi diferente. De imediato, os compradores estrangeiros da carne brasileira tomaram uma providência: não importar mais esse produto enquanto todos os responsáveis não pedissem desculpas formais e prometessem não mais se entregar aos desprazeres da carne. Um Deus nos acuda! Enquanto isso, aqui no Brasil, quem viu alguma rede de supermercados rejeitar publicamente as empresas investigadas? Ou um político levantar bandeira em nome da saúde pública?
Se a população brasileira fizesse como os importadores internacionais, não querendo mais consumir carne podre, com papel embutido, aí a vaca ia pro brejo. Precisava que o povo mostrasse que tem nervos e tutano e sangue nos olhos. Mas, não. Tem gente que nem percebeu a gravidade desse problema que nos intoxicou e nos contaminará ainda por muito tempo. Também, pudera: muitos ‘intelectuais’ estavam entretidos mandando ‘correntinhas’ pelo WhatsApp.
Mas ainda há tempo (será?) Quando quisermos, poderemos até embargar os governos desgovernados que conduzem a manada nacional. Poderíamos, apenas, com um voto consciente reescrever a nossa história, distante das páginas sujas que nos envergonham. Mas quem está preocupado com isso? Infelizmente, nas próximas eleições votaremos novamente pela paixão e pela aparência porque a nossa carne também é fraca. 





















4 comentários:

  1. De início pensei que fosse um comentário teólogico, mas ao ler foi aguçando minha curiosidade a medida que o assunto por ser atual me instingava mais a mais, pela crítica tão bem formulada. Ouvi em outros comentário, de outras pessoas, a desculpa de que esse assunto de 'carne fraca' poderia enfraquecer o dilema da 'lava jato'. São muitos os problemas atuais. MAS SEU COMENTÁRIO É EXCELENTE!

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    1. Grato pela leitura.
      Nenhum problema de hoje surgiu 'ontem.' A humanidade se arrasta por séculos e séculos contrariando a ética e a moral. Isso não pode nos deixar em situação confortável, tampouco aceitar como algo natural. A corrupção, por exemplo, pode ter origem nos gestos mais simples como subornar um guarda de trânsito.

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  2. Professor Admauro promoveu uma abordagem bem significativa no que concerne a grande falta de mobilização do povo brasileiro. A analogia entre "a carne é fraca"(qualidade do produto) e "a carne é fraca"(natureza humana)nos da um ponto de partida para entender que em todos os sentidos o homem é condicionado ao erro, embora, como no texto foi citado a bíblia, ela deixa claro que o livre arbítrio também nos oferece condição de escolha para os acertos.
    Mais enfim, o ponto é que, mesmo podendo acertar,o nosso povo foi "educado" na malandragem, onde as conquistas não são méritos, mas um amontoado de espertezas. O professor cita em seu texto: "não houve nenhum mugido, foi um silêncio diante da podridão"... Ora, esperar que houvesse, seria o mesmo que acreditar no invisível, pois quando se fala em corrupção, a indignação logo aparece, no entanto, acabar com ela seria o fim do povo brasileiro, pois aquele que critica as impurezas da carne é o mesmo que desrespeita a preferência do idoso no supermercado. Portanto, mobilizar o fim da corrupção, é acabar com a cultura do Brasil, pois enquanto os estrangeiros "imploram desculpas formais pelo erro", o brasileiro se cala, para que na haja um provável fim na corrupção, pois isso acabaria com as regalias e facilidades exercida pela cultura do povo.

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    1. Romilda:

      Seu texto é mais 'pesado' do que o meu, contudo muito verdadeiro e complementar. Com firmeza, você afirma que "em todos os sentidos o homem é condicionado ao erro." Acerta também quando reconhece que "o nosso povo foi "educado" na malandragem." Esse tipo de esperteza parece orgulhar algumas castas brasileiras. No entanto, ainda existem os que se indignam diante das artimanhas para se manter no poder. Vamos apostar nesses poucos (pouquíssimos) que restam e se erguem como defensores da moral e dos bons costumes. Eles podem fazer a diferença.

      Agradeço por sua sempre enriquecedora participação.

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