5 de maio de 2017

A POESIA ENTRE O TRADICIONAL E O CONTEMPORÂNEO

Por Débora Elisa Jacinto (1º período de Letras/2017.1 - FAMASUL)
 
COMENTA textos de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira e Tony Antunes
           
           No poema tradicional ou popular, um dos aspectos marcantes é a linguagem simples, de fácil entendimento para o leitor e que pode ou não conter rima, embora geralmente ela se faz presente. Nele, o eu lírico é sentimental e sofredor. Um dos temas mais recorrentes nesses poemas é o amor ligado à saudade ou o amor impossível. Na letra da música "Que nem jiló" de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, temos um excelente exemplo de como o poema/poesia popular encontra fácil abertura e rápida aceitação nas camadas mais populares da sociedade.
       Isso se dá pelo fato de sua linguagem não precisar se valer de palavras rebuscadas e formais, mas sim ter em sua composição a simplicidade como principal trunfo e, posteriormente, seu sucesso. O público ao ouvi-la certamente se identificará com a história retratada na música, por se tratar de uma situação comum: a dor da saudade. A vertente do poema popular cativa por suas palavras genuínas mas também porque reflete contextos em que as pessoas se veem reconhecidas nos seus versos.
        Já o poema contemporâneo é escrito de forma mais despretensiosa e livre, e isso se exemplifica pela sua não obrigatoriedade em seguir as técnicas de composição poética, os assuntos abordados já não se prendem a certas temáticas românticas e idealistas mas sim encontram agora uma abundância de conteúdos a serem explorados. Na música "Inexaurível eu" de Tony Antunes, poeta da Famasul, temos um exemplo desse tipo de poema, lendo não sabemos o significado de seus versos; admiramos suas palavras mas o que cada uma delas quer dizer só o seu compositor sabe.
        Podemos dizer que o poema contemporâneo cria com o autor uma relação mais aberta, composta por inesgotável fonte de ideias.


2 comentários:

  1. É muito curiosa essa relação poema tradicional x poema contemporâneo, no que concerne ao elo com o leitor, decodificador por natureza. A poesia, seja ela de que nível for, não tem qualquer comprometimento com nada nem com ninguém, é subversiva por direito e não aceita imposições de sentido.

    O poema tradicional, todavia, parece ter aos menos a intenção de se comunicar com o leitor, de lhe dizer algo, e, nesse aspecto, irmana-se com outros tipos e gêneros textuais. O poema contemporâneo, por outro lado, não quer se comunicar com ninguém, despreza completamente o leitor e dá ao autor a falsa ilusão de que o domina exclusivamente.

    Mas não existe domínio possível do entendimento para o poema absoluto, ele se esquiva de qualquer amarra do binômio significante x significado. Ora, mas poema absoluto também é texto e, como tal, a alguém há de se dirigir. Mas a quem? Questão metafísica e talvez para sempre insolúvel. Que assim seja!

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    1. Com certeza, Caio. O poema, enquanto gênero textual, há de se dirigir a alguém. Acredito que toda palavra tenha um endereço. Um ‘ai’, dito despretensiosamente, existe para comunicar determinada situação, quanto mais um poema, objeto de rigorosa seleção linguística.

      A questão se volta ao enigma da Esfinge: “Decifra-me!” No caso do poema tradicional, o autor produz o texto e já entrega a chave para a decifração; no contemporâneo, mais precisamente no ultra pós-moderno, o próprio poeta, depois de escrever o último verso, joga a chave fora. Daí, o monumental Carlos Drummond, perguntar sem interesse pela resposta: Trouxeste a chave?

      Sei que é em vão discutir com a incógnita mas é necessário continuar a peleja, pois das tantas dúvidas que surgem, vislumbra-se a possibilidade do novo. Ser tradicional pressupõe pertencer a um domínio público. Talvez seja esta a chave coletiva, pois dela todos têm uma cópia.

      Por fim, entendo que decifrar a Esfinge significa derrotá-la (Vide VCA). Vamos tentar.

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