DIAS DE PEDRA - Admmauro Gommes
Há dias de pedra
que não se contaminam com flores
nem se aproximam de nuvem.
Apenas surgem
como se fossem o orvalho
o golpe da espada
que não se contaminam com flores
nem se aproximam de nuvem.
Apenas surgem
como se fossem o orvalho
o golpe da espada
que
espanta o fio da esperança
e rasura no chão estranha gravura.
e rasura no chão estranha gravura.
Perturbável é olhar no espelho da vida
e
ver-se só.
Apressar as horas
Apressar as horas
é
quebrar o relógio de pedra e aproximar-se do pó.
Nesta obra, o poeta pernambucano Admmauro Gommes faz uma releitura/(re)escritura do pensamento pessoano, lembrando a passagem dos 80 anos da morte do ilustre escritor português (1935), ao tempo em que comemora o centenário da Revista Orpheu (1915), cuja publicação marcou a introdução do modernismo em Portugal. Em suma, é uma homenagem a um povo em nome de um dos seus maiores escritores. Este livro dialoga com os tantos heterônomos que ele criou para manifestar a visão plural de um escritor singular, como se vê em:
Ó mar, doce mar febril
tuas praias são a graça do
Brasil.
Quanta paz e calmaria
nas águas mornas ou frias.
Quantas noivas arranjaram casamento
regadas ao sol e vento.
Vale a pena banhar-se em tuas águas
pois as ondas nos lavam
as mágoas.
Quem quiser ter alegria
basta visitar-te um dia.
Deus deu tranquilidade ao mar
pra o mesmo céu espelhar.
MAR PORTUGUÊS (Fernando Pessoa)
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Ou em:
MENSAGEM À MENSAGEM (Admmauro Gommes)
A quem envio meus versos
mensagem forma de pássaro?
- Aquém?
Lanço o olhar ao futuro
onde ainda dorme a luz
antes do amanhã ser.
Talvez estranha linguagem
não encontre tradução
no fingimento deveras.
Mas não será voo cego.
Quem sabe, o remetente
e seu destino sou eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário